O Movimento Fé e Política acompanha com grande interesse o Sínodo sobre a Amazônia, porque seus objetivos – buscar “novos caminhos para a Igreja” e para “uma ecologia integral” – incidem tanto no âmbito eclesial quanto no âmbito político. Trata-se de renovar a Igreja Católica para que ela tenha papel mais efetivo na defesa de milhões de seres humanos e da biodiversidade da Terra, nossa casa-comum. É, portanto, um evento de Fé e de Política.
por Pedro Ribeiro
Desde a crise financeira de 2008, grandes empresas de mineração, agropecuária, energia, fármacos e do hidronegócio buscam recuperar a lucratividade ao apropriar-se de bens naturais e transforma-los em mercadorias. O Sínodo pode ser o maior obstáculo à realização desse projeto, na medida em que a Igreja Católica – e por afinidade, outras Igrejas cristãs – assumirem a Ecologia Integral e a defesa da Terra como imperativo ético. Assim, para esvaziar o Sínodo essas empresas mobilizam todas as forças disponíveis, especialmente grupos católicos que não aceitaram o Concílio Vaticano II e que se opõem à nova forma de ser Igreja por ele estabelecida.
A estratégia desses grupos é a mesma de sempre: fazer de conta que eles não fazem política e que se atêm à Fé cristã entendida como um conjunto de atos piedosos para alcançar recompensas eternas depois da morte. Adeptos de uma forma de catolicismo que já em meados do século XX era caduca, esses grupos são muito úteis às empresas interessadas em fazer da Amazônia um território liberado para a exploração capitalista.
Neste ponto esses grupos católicos ultraconservadores alinham-se com grupos econômicos ultraliberais e são por eles apoiados, porque ambos postulam a retirada de todo controle do Estado sobre o mercado e a sociedade. Não por coincidência identificam-se politicamente com o governo de Paulo Guedes e Bolsonaro.
E o fenômeno não se restringe ao catolicismo brasileiro. Nos EUA, o cardeal Burke alia-se a Steve Bannon para sua ofensiva contra o Papa Francisco. O Cardeal Mueller, da Alemanha é hoje a voz de maior peso nessa mesma ofensiva, embora já não tenha mais um cargo eclesiástico de importância. O discurso é o mesmo: em nome da preservação da antiga Fé católica, (embora não tenha mais de cinco séculos!) retirar a legitimidade de Francisco como agente de renovação da Igreja e de defesa da Terra e sua grande comunidade de vida.
Esse conflito religioso encobre e favorece os interesses de grandes empresas capitalistas em sua luta contra quem defende os povos-alvos de sua ambição: os povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos da Amazônia. Entender esse substrato político do atual embate religioso, é chave para entender o grande debate atual sobre o Sínodo da Amazônia e assim não se deixar levar por argumentos que de forma piedosa estão a serviço da necropolítica.
