RIO+20: UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL
É a frase, o rumo, a orientação dadas pela presidenta Dilma no Fórum Social Temático (FST) realizado em Porto Alegre no final de janeiro: “Eu considero essencial na Rio+20 discutir um outro paradigma. A função da Rio+20 é colocar entre os governos a questão da crise e como sair dela. Discutir a desigualdade social que atinge os países do Terceiro Mundo e emergentes. O acesso à água. Então vocês discutam os novos paradigmas, se vocês quiserem, anti-capitalistas.”
Disse mais a presidenta: “Nossos países, hoje, não sacrificam sua soberania frente às pressões de potências, grupos financeiros ou agências de classificação de risco. Mas sobretudo nossos países avançam fortalecendo a democracia. Na América do Sul, como diz aquela canção da Revolução dos Cravos, da Revolução Portuguesa: ‘O povo é quem ordena’.”
Esta cidade – Porto Alegre -, disse ela, “transformou-se em referência para todos aqueles que buscavam criar uma alternativa ao desequilíbrio da situação econômica e política global. Aqui, afirmou-se a idéia de que um outro mundo é possível. Aqui, estavam, como hoje aqui (no Gigantinho, Porto Alegre) estão, os que não sucumbiram ao pensamento único, nem acreditaram no fim da história”.
A Rio+20, segundo a presidenta Dilma, “deve ser um momento importante de um processo de renovação de idéias. Centrado na importante questão ambiental e nos problemas da mudança do clima, o encontro do Rio vai enfrentar uma questão mais ampla e decisisva: estará no centro dos debates um novo modelo de desenvolvimento, contemplando três dimensões – a econômica, a social e a ambiental. O que estará em debate na Rio+20 é um modelo de desenvolvimento capaz de articular o crescimento e a geração de emprego; a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades; a participação social e ampliação de direitos; a educação e a inovação tecnológica; o uso sustentável e a preservação dos recursos ambientais.”
Não são poucos os desafios. Mas são tempos também de oportunidades. Disse a presidenta Dilma: “A tarefa que nos impõe este Fórum Social Temático, como também a Rio+20 e outros eventos que virão, é o de desencadear o movimento de renovação de ideais e de novos processos, absolutamente necessários para enfrentar os dias difíceis em que vive hoje ampla parte da humanidade. A dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas parece aumentar, cada vez mais, nos países desenvolvidos, colocando em risco não apenas conquistas sociais, mas a própria democracia. O mundo do pós-neoliberalismo não pode ser o mundo da pós-democracia. A indignação de jovens, de mulheres, de militantes, que ocupam as ruas de dezenas de cidades do mundo, é um sintoma importante que não pode ser desconsiderado. As organizações da sociedade civil e os governos progressistas, cada um na sua dimensão, podem fazer desses primeiros anos do novo milênio o anúncio de uma nova era. Por isso, é decisivo o fortalecimento dos laços de solidariedade e da cooperação Sul-Sul que unem os nossos povos.”
Os debates foram intensos no Fórum Social Temático de Porto Alegre. Foi construída uma aliança estratégica entre movimentos sociais e populares, povo organizado, ONGS, lideranças sociais e políticas, para levar à Rio+20 idéias e propostas de um outro mundo possível. Como diz a Declaração da Assembléia dos Movimentos Sociais ao final do FST: “Nós, povos de todos os continentes, reunidos na Assembléia de Movimentos Sociais, realizada durante o FST Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental, lutamos contra as causas de uma crise sistêmica, que se expressa na crise econômica, financeira, política, alimentar e ambiental que se irradia por todas as dimensões, colocando em risco a própria sobrevivência da humanidade.”
Os eixos comuns de luta são, adotados na Assembléia de Dakar, em 2011, reafirmados agora em 2012: Lutar contra as transnacionais; luta pela justiça climática e pela soberania alimentar; luta para banir a violência contra a mulher; luta pela paz e contra a guerra, o colonialialismo, as ocupações e a militarização de nossos territórios.
Como ações concretas, além da preparação para participar da Rio+20, foi decidido realizar dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, “uma grande jornada de mobilização global contra o capitalismo e em defesa da justiça ambiental e social.” E “fazer entre 18 e 26 de junho, no Rio da Janeiro, uma grande mobilização mundial, com acampamento permanente, uma marcha de um milhão de pessoas e realizando a Cúpula dos Povos”.
2012, portanto, não será um ano de descanso. Como sinalizou o final do discurso da presidenta Dilma no Gigantinho: “Os grandes movimentos da humanidade são feitos de ação, mas também de esperança. Foi a esperança que moveu a minha geração, décadas atrás. Hoje, quando olho o caminho percorrido e para os objetivos alcançados, só posso dizer a vocês: valeu a pena. É essa esperança que nos une e nos mobiliza para a Rio+20. É essa esperança que deve sempre nos guiar na busca de um novo modo de vida, inclusivo e sustentável. Sabendo que o papel da sociedade civil será determinante para o êxito da Rio+20, conto com a mobilização, com o engajamento e a presença de vocês no Rio de Janeiro. Eu tenho certeza: UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL.”
Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Em dois de fevereiro de dois mil e doze