Território Quilombola Alto Bonito, 25 a 28 de maio de 2017.
Publicado por Conselho Indigenista Missionário – 29/05/2017
Ao som de tambores, maracas, atabaques, pandeiros, triângulo e cantos ocorreu neste final de semana, entre os dias 26 e 28, na Comunidade Quilombola de Alto Bonito, a 11 km da cidade de Brejo na região leste do Maranhão, a VI edição do Encontrão da Teia, que é formada pelos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Ao todo participaram cerca de 400 pessoas entre indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos, geraiseiros, sertanejos, quebradeiras de coco e outros aliados da causa.
Para a reflexão deste encontro, os povos presentes discutiram o tema: “Não estamos extintos, estamos de pé, em luta” sob o lema “Essa terra é nossa”. O encontro é uma forma de reafirmar mais uma vez o território dos povos para a garantia de todos os projetos de vida das comunidades.
Um dos objetivos da Teia é a articulação da luta dos povos, em direção da garantia do Bem Viver, da autonomia dos territórios e da soberania educacional e produtiva, que são as expressões da forma de produção das comunidades.
Para Adriano Guileto do povo Gavião (Caw Cree), que faz parte da articulação do encontro, “a teia veio para fortalecer a cultura e a luta de todos povos tradicionais do Maranhão”. No final de abril, o povo Gamela sofreu um massacre no município de Viana – 22 indígenas foram feridos: cinco a tiros, dois tiveram as mãos amputadas e entre os demais machucados estão três crianças. Para os representantes dos povos e comunidades no encontro, a Teia deve agir de forma unitária para enfrentar uma conjuntura de massacres e chacinas – na semana passada, dez trabalhadores e trabalhadora rural foram assassinados pelas polícias Militar e Civil de Redenção, no Pará.
Rosemeire Diniz, coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, ressalta que “o VI encontro da Teia do Maranhão vem trazer a discussão do que os povos e comunidades tradicionais vem enfrentando atualmente no Brasil, que é a questão da invisibilidade desses povos, aonde a quem diga que não há indígenas em algumas regiões, mas supostos indígenas”.
A missionária explica que “os encontros da Teia que reúne diferentes povos vem reafirmar que os povos tradicionais não estão extintos, mas estão de pé em luta pelos seus direitos porque é da territorialidade que esses povos tiram sua própria existência, não só da sobrevivência física, mas, é toda uma reprodução de vivência cultural e de modo de vida”.
Segundo com Dom Valdeci, Bispo da Diocese de Brejo, que acolhe a VI edição do encontrão da teia, “um dos pontos mais importantes dos encontros é o fortalecimento das comunidades tradicionais, para a permanência na terra, na luta pela conquista de direitos, o espírito de partilha e a solidariedade que a teia vem fomentando, em forma de encorajamento das comunidades”.
Ainda de acordo Dom Valdeci, na região leste do Maranhão, que abrange os municípios que fazem parte da Diocese de Brejo, existem atualmente 14 comunidades quilombolas que já têm a certificação da Fundação Palmares, e outras comunidades que ainda não foram atendidas, sendo que em todo o estado do Maranhão há aproximadamente 336 processos pendentes no INCRA-MA.
Gil Quilombola, uma das lideranças do Quilombo Nazaré de Serrano, destaca o fortalecimento das comunidades através da partilha dos diferentes métodos de luta das várias comunidades, valorizando e respeitando os saberes, os modos de vida e a cultura de cada povo. Para que assim juntos possam lutar contra esse sistema opressor que está aí oprimindo as comunidades de todas as formas.
O encontro seguiu com denúncias das violências sofridas pelos povos e comunidades, pela omissão do Estado no cumprimento dos direitos constitucionais. É o momento de unificação dos diferentes povos que resistem ao sistema capitalista.
DOCUMENTO FINAL
“NÃO ESTAMOS EXTINTOS. ESTAMOS DE PÉ, EM LUTA. ESTA TERRA É NOSSA!
Nós, povos indígenas Akroá Gamella, Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe da Bahia, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiros do Acre, com o apoio solidário e militante da Comissão Pastoral da Terra/CPT, do Conselho Indigenista Missionário/CIMI, do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco/MIQCB, Irmãs de Notre Dame, Movimento de Comunidades Populares/MCP, Teia de Povos da Bahia, Diocese de Brejo, Núcleo de Estudos e Pesquisa em questão Agrária/NERA, CSP Conlutas, Coletivo Nódua, Centro de Defesa de Açailândia, Grupo de Estudo em Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente/GEDMMA, Núcleo de Estudos Geográficos/UFMA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/Campus Pinheiro, Rede de Agroecologia do Maranhão/RAMA, nos reunimos no território quilombola Alto Bonito, Brejo/MA, nos dias 25 a 28 de maio de 2017, para o VI Encontro da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Bebendo da experiência dos seringueiros de Xapuri (Acre), dos povos da Bahia, e dos muitos relatos da nossa gente, afirmamos a nossa autonomia na segurança, na educação, na produção, na autogestão e no Bem Viver!
Denunciamos o modelo de desenvolvimento que tem se perpetuado no Brasil, explorador e concentrador de riquezas que, para alcançar o máximo de exploração da natureza precisa negar nossa existência, nossa cultura e nossos modos de vida, atuando violentamente no extermínio de povos e comunidades, como ocorrera com camponeses em Colniza no Mato Grosso, com o Povo Akroá-Gamella no Maranhão e com os camponeses em Pau D’árco, no Pará.
Reafirmamos a luta no enfrentamento com o agro-hidro-minero-negócio, o Parque Eólico nos Lençóis Maranhenses, gaúchos, fazendeiros, madeireiros, empresas nacionais e internacionais (mineradora Vale, Suzano Papel e Celulose S. A., WPR Gestão de Portos e Logísticas de São Luís, WTorre, Grupo Maratá, Grupo FC Oliveira, e outras). Nossos inimigos contam o aparato do Estado brasileiro, tais como o Executivo, Legislativo e Judiciário, o ICMBio, em todas suas esferas, além do braço armado do Estado – Polícia Militar, Civil e Federal -, que historicamente são instrumentos de repressão de nossos povos e a criminalização de nossas lutas, além da uso permanente de jagunços e pistoleiros.
Reafirmamos os princípios do Bem Viver, que passa pela retomada dos nossos territórios, da nossa autonomia, pela garantia da soberania alimentar, manutenção da nossa cultura e modo de vida.
Nossa força vem dos encantados, vem dos nossos antepassados, vem dos nossos mártires, de sentir a força da mãe-terra quando pisamos em nosso chão. É uma força que jamais será silenciada, que permanece sempre viva quando nos encontramos e nos sentimos.
A partilha das experiências de insurgências alimenta o nosso espírito e reafirma a luta pela terra e pelo território e os laços entre povos estabelece novos vínculos históricos de resistência.
Esse governo que está destruindo o Brasil não nos representa! Fora Temer! Fora todos eles!
ESTA TERRA TEM DONO! (Sepé Tiaraju)
Quilombo Alto Bonito, Brejo dos Maypurá, 28 de maio de 2017.