Mês de Maria, mês das noivas, mês das mães.
Mês que rende homenagem à deusa Maia, da fecundidade e da primavera.
Maio não começa fácil!
Suceder uma avalanche de eventos protagonizados por homens poderosos, do alto comando do país, só mesmo a aura e a força do feminino para ajudar a ler com clareza nosso mundo e encarar as lutas que se impõem.
O rescaldo da quase “queixa-crime” do ex-juiz e então Ministro da Justiça, Sérgio Moro, evidenciada em seu pronunciamento (dia 24/04/2020), em relação ao Presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de intervenção na Polícia Federal, aprofunda a chaga necrosada da política brasileira sob o governo Bolsonaro. Juristas apontaram como Moro também confessa de sua parte seus crimes, o que se pode relembrar ao conferir a matéria a seguir.
Nesse dia de diz-que-diz de Ministro-Presidente, o Brasil batia a casa dos 3.670 óbitos confirmados pelo Covid-19. Ao mesmo tempo, aumentavam, em todo o país, as filas da população de baixa renda ou sem renda nenhuma para o recebimento do auxílio emergencial de R$ 600,00. Enquanto isso, a estimativa de desemprego sobe para 17 milhões. O desmatamento na Amazônia aumentou no primeiro trimestre do ano, assim como a violência contra indígenas. Apesar do argumento do governo de que o Covid-19 freou a economia, o garimpo e a extração de madeira ilegais continuam correndo soltos.
No que diz respeito à mulher, por exemplo, nestes tempos de pandemia, é a mais afetada. É a maior vítima de violência doméstica – física e simbólica. É sobre quem recaem as responsabilidades familiares, do provimento material ao cuidado com a saúde. Ainda, é a linha de frente no combate ao Coronavírus, é 80% da mão de obra dos profissionais que atuam na saúde. Mas pesquisas registram, também, que as profissionais percebem os menores salários. Confira os dados: https://www.saibamais.jor.br/a-linha-de-frente-do-combate-a-covid-19-no-nordeste-e-feminina-e-tem-baixos-salarios
Neste cenário, vimos aumentar os índices de óbitos por Covid-19 para 5.017, nesta última semana de abril. Questionado sobre os dados do Ministério da Saúde, o Presidente responde: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
O cenário do país é desolador, de um lado, pela postura de um chefe de estado sem empatia para com aqueles que governa, e, por outro, por adotar medidas que conduzem a população, especialmente a mais vulnerável, a piorar suas condições de vida.
Em todos os casos, é uma política genocida do ponto de vista econômico, social, cultural. A presidência da República brasileira virou o lugar de onde saem as palavras e as ações que mais atingem a dignidade humana, desqualificando-a, desrespeitando-a, violando-a em todas as esferas.
Mas em meio a isto, despontam inúmeras redes de solidariedade e ações que confrontam o plantel bolsonarista de retirada de direitos e de desprezo aos mais pobres. No início de abril, por exemplo, o dono da Madero, demitia 600 trabalhadores, enquanto o MST doava doze toneladas de arroz orgânico para compor as cestas básicas de pessoas em situação de vulnerabilidade. Enquanto o governo federal patrocina o desmonte da Ciência e da Tecnologia, da Capes, do CNPq, do SUS, trocando Ministro de Saúde em plena crise, grupos de pesquisadores, dentre profissionais e estudantes, em todo o país, dedicam-se a estudar o Covid-19, além de, numa rede voluntária, produzirem de álcool gel a máscaras e outros equipamentos de proteção para os profissionais e hospitais públicos. Centenas de voluntários pelo país dedicam tempo para arrecadar doações de material de higiene e limpeza, cestas básicas, lençóis e toalhas, comida etc. para população de rua, famílias de baixa renda, sem terras, indígenas, quilombolas.
O isolamento a que nos submetemos provocou novas formas de articulações virtuais, mas nos mostrou como a ação coletiva presencial é importante e insubstituível em tempos de governo fascista como o nosso. Somente neste período, vimos universidades e Institutos Federais sofrerem intervenção, em flagrante desrespeito a sua autonomia, sem que a sociedade possa intensificar ações de resistência, ao mesmo tempo em que grupos bolsonaristas, sob chancela presidencial descumprem medidas do isolamento para pedir fechamento do Congresso e do STF. Parece ser o balão de ensaio da cruzada autoritária a que o presidente quer submeter o país.
Em meio a essa pandemia e às limitações por ela impostas, teremos como resistir?
Apesar da aposta do presidente no caos social, é importante não perdermos de vista a outra lição que a pandemia de coronavírus trouxe de volta para a ordem do dia: não haverá transformação social sem que as pessoas tenham acesso real a serviços públicos – da seguridade social à cultura – que lhes garantam minimamente a dignidade.
A sociedade do bem viver não pode se transformar numa abstração. Ela passa pela construção diária de alternativas sociais, econômicas, culturais que façam com que os mais pobres possam reencontrar o objeto de sua luta pela sobrevivência na esperança de uma sociedade igualitária. E longe das práticas e discursos que desprezam os direitos humanos.
Maio poderá nos trazer o anúncio de boas mudanças?
Dizem os dados que o protagonismo para o enfrentamento da crise é feminino. A palavra transformação também é.
Que Maria, as mães, as mulheres sigam inspirando a construção de uma nova sociedade.
Aparecida Fernandes
Coordenação Executiva do Movimento Nacional Fé e Política