Ontem o dólar ultrapassou a casa dos R$4,70. Desse jeito a moeda norte-americana vai aos R$5,00 em poucos dias. Exportadores e parcela do mercado financeiro vão comemorar inicialmente, mas produtores e fornecedores para o consumo interno vão sofrer bastante.
A continuar assim e com outra queda do preço do barril do petróleo como a do final de semana — com a Petrobrás sucateada com está — o prognóstico poderá ser sombrio. O caso da nossa empresa pública de energia é emblemático. O estado brasileiro abriu mão de um protagonismo mundial em nome de presença subalterna no campo energético e da produção de combustíveis.
Desde o governo Temer, o país mutilou sua maior joia, entregando parcelas da cadeia produtiva do petróleo, abrindo mão daquilo que é básico neste setor. TODAS as grandes companhias petrolíferas do mundo atuam em todos os segmentos da atividade produtiva. Do poço à bomba de combustível, diriam os petroleiros.
De 2016 para cá, os governos brasileiros fizeram a Petrobrás renunciar ao refino e à distribuição de combustíveis para o mercado interno. Na indústria do petróleo, optou-se por somente produzir o óleo cru e importar produtos refinados.
Agora que o dólar quase bate a casa dos R$ 5,00, importamos derivados com preço na estratosfera e praticamente está inviabilizada a exportação das nossas reservas do pré-sal por conta do preço do barril de petróleo estar despencando.
Que impactos teremos no cotidiano das pessoas e na mesa do trabalhador? Como andam dizendo por aí, parabéns aos envolvidos…
Se esse quadro turbulento se confirmar, o desemprego e a informalidade aumentarão, afetando toda a cadeia produtiva. As contribuições para o INSS serão menores, tornando a situação mais delicada, sobretudo após a reforma da previdência.
Com o prejuízo da cadeia produtiva ligada ao Petróleo e aumento do desemprego, reduziria-se a arrecadação dos impostos de municípios, estados e da União, diminuindo sensivelmente a já pouca predisposição do atual governo federal para investimentos e proteção social, bem como capacidade de pagamento de salários dos servidores do Poder Executivo.
Paralelamente, sem empregos e sem poder de consumo, aumentaria-se o já explosivo endividamento das famílias. É bem possível que, para manter suas taxas de lucro, o comércio varejista imprimisse uma alta no valor das mercadorias, arrochando ainda mais o combalido poder de compra da população.
Pequenos e talvez médios empreendimentos sofreriam enorme baque, porque dependem diretamente da capacidade de consumo das pessoas comuns. Ou seja, da classe média e dos pobres.
Mas não é só isso. Poderíamos ter ampliação do caos na saúde pública, porque de faltaria recursos que já são rarefeitos, faltando dinheiro para as despesas cotidianas em saúde e educação.
E isso pressionaria a rede de atendimento privado também. Ora porque inicialmente a procura em clínicas e hospitais privados explodiria, tornando-as mais parecidas no atendimento básico e de emergência com as UPAS – apenas tendo ar-condicionado gelado, água e televisão; ora porque em médio prazo planos de saúde seriam cancelados e a classe média, descapitalizada, buscará os serviços públicos.
Pronto! Estará instaurado um cenário muito ruim para os mais pobres. Quem sabe parcelas da classe média, com esse choque de realidade, percebam o quanto estão distantes da elite desse país e pare de se comportar como se fossem do “andar de cima” da sociedade brasileira.
E ainda temos uma doença em escala global entrando em um país combalido… Como diria aquele poeta mineiro:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
(ANDRADE, Carlos Drummond. José)
𝐏𝐨𝐫 𝐉𝐨𝐫𝐠𝐞 𝐀𝐥𝐞𝐱𝐚𝐧𝐝𝐫𝐞 𝐀𝐥𝐯𝐞𝐬 – Sociólogo, professor da educação Básica e participa do Movimento Fé e Política