Uma palavra de esclarecimento e esperança para católicos desorientados ou confusos

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Por Prof. Dr. Ozanan Vicente Carrara

Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: “violência!”, sem me socorreres? Por que me fazer ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? E o Senhor respondeu: “… quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 1, 2-3; 2,4)

Queremos dirigir uma palavra de esclarecimento e de esperança aos católicos que nos conhecem e que nos pedem esclarecimentos sobre esse uso abusivo da religião nas eleições.

Nas duas últimas eleições, a direita tem usado a religião de forma desonesta e perversa para confundir os católicos com as mesmas supostas “ameaças comunistas” usadas desde 1964, afirmando, sem nenhuma prova, que o candidato da esquerda vai fechar Igrejas, perseguir padres e bispos e coisas do gênero. É preciso esclarecer que nunca houve real ameaça comunista, no Brasil, nem mesmo em 1964, embora esse medo tenha sido sempre explorado para influenciar o voto dos mais simples e desinformados. Historiadores provam que essa suposta ameaça comunista é um recurso desonesto da extrema-direita para explorar o medo e a desinformação do povo, sem nenhuma base em fatos reais. Por outro lado, também não há perseguição religiosa, no Brasil. A verdadeira ameaça contra o Brasil não vem de supostos países “comunistas” que nem existem mais, mas sim de países ricos capitalistas que cobiçam as riquezas naturais do país e querem explorá-las para seu benefício, em prejuízo do meio ambiente e dos interesses do povo brasileiro. A grande questão que se impõe são os níveis de desigualdade social entre nós que o atual governo aprofundou ainda mais, trazendo a fome de volta para os lares de milhões de brasileiros enquanto aumentou o número de milionários e bilionários, no país.

Há, ainda, outras ameaças reais que devem nos preocupar no momento de escolher o candidato para quem vamos dar o nosso voto. Enumeramos algumas delas:

– ameaças à democracia constitucional por parte daqueles que esbravejam contra o STF e atentam contra nossa Constituição de 1988, tentando implantar o autoritarismo no país, a partir da supremacia do poder executivo que é apenas um dos pilares da democracia ao lado dos poderes legislativo e judiciário.

– ameaças aos direitos humanos por parte daqueles que defendem tortura e aplaudem as mortes arbitrária de moradores das comunidades de periferia das grandes cidades, sem direito até mesmo a um julgamento prévio. Muitos nem têm ficha criminal alguma!

– ameaças às comunidades indígenas e quilombolas cujos direitos foram garantidos pela Constituição de 1988.

– ameaças à agricultura familiar que nos alimenta, concedendo toda prioridade ao agronegócio voltado apenas para a monocultura de exportação.

– ameaças ao meio ambiente, especialmente com o incentivo a incêndios criminosos além do incentivo à mineração depredadora e irresponsável, na Amazônia e em reservas ambientais.

– ameaças ao SUS (Sistema Único de Saúde), com propostas de privatizá-lo e favorecer os Planos privados de Saúde, negando aos mais pobres o acesso universal à saúde.

– Ameaças à Escola Pública, com a entrega da educação a grupos privados e até mesmo internacionais que querem lucrar às custas do direito universal à educação. Pensamos ainda no sufocamento das universidades públicas com constantes cortes de verbas.

– Ameaças à paz com a liberação de grande quantidade de armas para fins particulares que mergulham tanto o campo como as cidades numa insegurança cada vez maior e só beneficiam a indústria de armas. Enquanto a fome volta, as armas se multiplicam!

– Ameaças de um Brasil privatizado e vendido aos interesses de grupos internacionais que só se interessam por lucros às custas de necessidades básicas cada vez maiores do povo brasileiro.

– Ameaças de fortalecimento de grupos religiosos fundamentalistas e sectários que usam a religião, sem mostrarem compromisso algum com o Evangelho e seus valores, alimentando fanatismo e ódio.

Não é sem razão que a grande maioria dos países latino-americanos, do México à América do Sul, escolheram governos de esquerda que têm propostas de políticas públicas em benefício dos mais pobres, sem se preocuparem apenas em vender seus países para grupos internacionais às custas da pobreza e miséria de seu próprio povo.

Portanto, não nos deixemos nem amedrontar nem enganar por interesses escusos e diabólicos que se escondem por trás de quem faz uso da religião para levar o povo à escolha de candidatos que não aliviarão seu sofrimento, não garantirão seus direitos básicos nem diminuirão os altos níveis de desigualdade social. Querem apenas dividir o país e nos jogar uns contra os outros para assim nos dominarem e nos retirarem o direito à divergência. Os últimos quatro anos mostraram claramente a serviço de quem está o atual governo. Saibamos dizer não às políticas de morte, de destruição do Estado Social, da Educação e Saúde públicas, dando nosso voto a quem sempre trabalhou por essas causas populares e a serviço da justiça social.

* Ozanan Vicente Carrara é filósofo, pedagogo e teólogo, doutor em Ética e Filosofia Política pela UERJ. É professor na UFF, campus de Volta Redonda/RJ.

*Foto: Bianca Barra