Memória e Compromisso

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“Uma coisa é perdoar, outra coisa é esquecer”, disse a Irmã Sueli Bellato, referindo fala do ex-presidente da CNBB, D. Geraldo Lyrio, sobre os crimes na ditadura militar. Foi no lançamento do livro ‘Memória e Compromisso – A participação dos Cristãos na Redemocratização do Brasil e Anistia Política’, organizado pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz, na sede nacional da CNBB, em Brasília, 13 de junho, dia de Santo Antônio.

D. Leonardo Steiner, Secretário Geral da CNBB, que coordenou o ato de lançamento, escreve na Apresentação do livro: “Fazer memória, memorar; compromisso, comprometer-se! A memória conduzirá a um comprometimento, isto é, ao caminho comum da justiça, da verdade e da paz! A memória do que nos une nos compromete com o bem e o direito de todos, a justiça e a paz. Na memória e no compromisso se constrói um povo e uma nação.”

Diz a orelha do livro: “Fazer memória não é simplesmente ceder ao apego do passado. Fazer memória não é permitir que um passado não passe, mas que continue alimentando o presente. Os cristãos têm uma experiência singular disso. Autenticamente, conseguem ler a realidade com os olhos da fé. Por isso podemos afirmar que há uma peculiaridade da militância cristã pela democracia, que lhe diferencia de outras reflexões de outros com o mesmo objetivo de superação do autoritarismo.

Queremos, com esse livro, prestar homenagem a todos aqueles que, motivados pela fé, resistiram ao autoritarismo ditatorial e lutaram por democratização e anistia política no Brasil. Homenageamos, sobretudo, aqueles menos conhecidos, cujos rostos e nomes contribuíram significativamente para a superação do regime, mas pouco se consolidaram nos anais da história.”

O livro tem, em “Puxando o fio da memória’, reflexões sobre ‘A Igreja e a Ditadura militar’, de Sérgio Ricardo Coutinho; ‘Igreja e Poder no Brasil’, de Cândido Mendes; ‘As Teologias no Contexto da Ditadura militar’, do padre Nelito Dornelas; ‘1964: O Uso dos Militares pelos Grupos civis reacionários’, de Leonardo Boff. Tem relatos e testemunhos de quem sofreu a ditadura, pessoas com as quais tive a felicidade de conviver: o Ir. Antônio Cechin e sua Catequese da Libertação; Ademar Bertucci, da Cáritas e grande lutador da economia solidária; Cláudio Nascimento, que integrou a equipe do TALHER e a Rede de Educação Cidadã (RECID); Valdemar Rossi, da Oposição Metalúrgica de São Paulo e da Pastoral Operária, recentemente falecido; padre José Ernanne Pinheiro, do Centro de Fé e Política D. Helder Câmara (CEFEP); Anivaldo Padilha, leigo metodista e pai do Alexandre Padilha. Tem reflexões do Pe. Décio Walker, ‘Leitura bíblica de Resistência nos tempos da Ditadura”; de Frei Betto, ‘Superar a Amnésia nacional, manter viva a Memória’; de Sueli Bellato, ‘Resgate da Memória e Compromisso com a Dignidade humana e o Aperfeiçoamento da Democracia’; de Ayrton Fausto, ‘A Democracia no Brasil: 2015’.

Nas palavras de Carlos Moura, Secretário Executivo da Comissão de Justiça e Paz, é um testemunho da resistência dos cristãos e de sua responsabilidade como cidadãos com o Brasil de ontem e de hoje. E perguntou: “Estaremos imbuídos da mesma esperança e resistência de antanho para defender a democracia?”

Os cristãos lutaram contra a ditadura e sofreram prisões, torturas, assassinatos, exílio. E atuaram na reconstrução da democracia: nos grupos de reflexão bíblica, nas pastorais populares como a da Juventude, a da Terra, a Operária, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), na reflexão da Teologia da Libertação, nas organizações populares de bairro e do campo, nas Oposições Sindicais, no movimento sindical combativo.

‘Memória e Compromisso – A Participação dos Cristãos na Redemocratização do Brasil e Anistia política’ é parte do retrato de uma época. É também, nos tempos conturbados de hoje, em que mais uma vez a democracia está sob ameaça no Brasil, um sentido de futuro, de que é possível superar as crises, de que a fé com a política pode impulsionar e dar sentido profético a uma nova sociedade, com justiça, igualdade, solidariedade.

Hoje, 2016, é possível cantar, como fizeram os presentes ao ato de lançamento: “Quero entoar um canto novo de alegria/ Ao raiar aquele dia de chegada em nosso chão/ Com meu povo celebrar a alvorada/ Minha gente libertada/ LUTAR NÃO FOI EM VÃO”. Porque “da esperança eu me apego ao mutirão;/ pois a terra é dos irmãos e na mesa igual partilha tem que haver;/ arrozais florescerão e em seus frutos liberdade colherei” (Peregrino nas Estradas de um Mundo desigual, de Frei Domingos dos Santos).

E na palavra final da Ir. Sueli, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB e que participou da Comissão de Anistia: “Para que nunca mais aconteça.”

Selvino Heck Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul – 1987/1990 Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política Em dezessete de junho de dois mil e dezesseis